As pessoas andam tão preocupadas com o próprio umbigo que não entendem mais as cobranças

Preciso confessar uma coisa: estou finalmente enxergando uma característica muito forte em mim, a qual só achava que se fazia presente em relacionamentos amorosos, mas que se mostrou [a meu ver] presente, também, nos demais relacionamentos – profissionais e sociais. É ela: o ato de cobrar.

Eu cobro muito das pessoas. E quem me conhece pode não acreditar, mas todos os dias eu me questiono por ser assim. Porque não sou o tipo de pessoa que simplesmente impõe o que é aos outros e não reflete por nenhum momento se poderia ser melhor: eu reflito. E agora estou começando a entender…

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relacionamento | pessoas | gente | cotidiano | comportamento | cobrança | egocentrismo | displicência | egoísmo | o mundo de hoje não aceita cobranças

Quase sempre o motivo de uma discussão minha com alguém é por causa de cobrança – e, 90% das vezes, sou eu quem cobro algo da outra pessoa. E a maioria das pessoas não aceita ou não entende por que eu as cobro, mas aqui, neste espaço, vou explicar um pouco o por que. Em minha opinião, tanto no ramo profissional, quanto no pessoal, o sentido de cobrar acaba sendo o mesmo: eu cobro quando acho que estou dando mais do que estou recebendo – ou quando acho que sou a única me esforçando ali, para o que quer que seja.

Pensa comigo: você, que reclama de ser cobrado, ao invés de revirar o olho e fazer cara feia, já parou para pensar por que te cobram? Normalmente, a cobrança é gerada através de um compromisso: quando você faz uma compra e paga esta compra no cartão de crédito, você está se comprometendo a pagar parcelado – e se você não pagar, o banco vai te cobrar. Com juros. A meu ver, relacionamentos funcionam assim, a grosso modo: a partir do momento que você chama uma pessoa de amiga, de namorada ou de sócia/parceira/funcionária de trabalho, por exemplo, você está firmando um compromisso com esta pessoa. O compromisso em ser honesto, por exemplo, em ser fiel, presente, em fazer parceria, enfim, coisas que fazem parte de compromissos. Vocês sabem.

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E, sinto informar, mas compromissos geram cobrança mais cedo ou mais tarde. Porque somos humanos e falhamos. Afinal, você quer fidelidade, mas não quer ser fiel? Quer ganhar dinheiro, mas não quer trabalhar? Quer que o outro trabalhe com honestidade, mas você não faz questão de ser honesto? Pede segredo e espalha o segredo de alguém por aí?…

O pior é que tenho constatado, tanto por vivência, quanto por escutar experiências alheias, que as pessoas estão cada vez menos a fim de compromisso, seja em qual segmento for – justamente porque detestam ser cobrados. Cobrança virou tabu, virou chatice. Ninguém admite dar satisfação ao outro – mas o engraçado é que tá todo mundo exigindo satisfação por aí, pelas menores coisas. Ninguém quer criar vínculos.

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E ainda que você seja do tipo "desencanado, desapegado" que levanta a bandeira do "TÔ NEM AÍ" a torto e à direito, saiba que uma hora você vai sentir vontade de cobrar algo de alguém, à menos que você vá morar isolado[a] em uma ilha. Aliás, nem precisa ir muito longe: em algum momento da sua vida, você com certeza cobrou alguma coisa ou fez menção em cobrar. "Poxa, falou que ia me ligar e não ligou!" – isso é uma cobrança. Sutil, mas é. "Poxa, eu tô falando com você e você nem está dando ouvidos".

"Poxa, mas você me pediu em namoro e saiu com outra". E, a meu ver, estes exemplos são cobranças perfeitamente plausíveis. Porque é NORMAL cobrar. Faz parte da convivência, faz parte do ato de se importar e, também, de não querer ser feito de otário. Mas infelizmente, no mundo atual, as pessoas não sabem mais o valor de se importar com alguém ou de dar a sua palavra. Palavra não tem valor, aliás, nada tem valor. O que é valor, mesmo? 

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Prometem e não cumprem. Falam que vão e não vão. Falam que são e na prática provam ser o oposto. Tá cheio desses fakes por aí. E se ofendem se, por causa dessas atitudes, são cobrados. No meu entender, alguém que não entende cobrança é porque, automaticamente, não entende compromisso. Seja em qual aspecto for da vida. Se ela diz ser sua amiga e não entende por que você a cobra de sumir e não aparecer nunca, em 50 anos, ela não é sua amiga de verdade. Se é seu namorado e não entende por que está sendo cobrado, por exemplo, por ter dado o perdido de uma semana, ele não ama você de verdade [aliás, nem seu namorado deveria ser mais – mas este é um outro assunto].

Se trabalha com você e não entende por que você está cobrando aquela reunião que foi adiada há meses, não serve para ser seu parceiro de trabalho, ou então, está querendo te enrolar. Quem quer, se esforça. Enfrenta discussões, resolve problemas e faz de tudo para obter um bom trabalho em equipe – seja onde estiver, com quem estiver. Aquele que for sério, vai saber lidar com a cobrança sem encarar a situação como uma chatice – porque ele sabe que, um dia, ele estará no lugar de quem cobra [à menos que seja um filho da puta sem sentimentos e sem ideais de compromisso]. Ou, à menos, que você não tenha importância alguma para esta pessoa. Aí é o caso de se afastar e cortar relações – não necessariamente nesta ordem.

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Imagens: Tumblr [reprodução].

Meu parecer final mediante toda esta reflexão: compromisso gera cobrança, faz parte. Se você não sabe lidar com cobrança, sugiro que não se comprometa mais com nada, nem ninguém e seja um(a) sozinho(a) na vida. Eu cobro mesmo e vou continuar cobrando de quem me importa – se é um defeito ou qualidade, cabe a você decidir. Mas quem me ama e me considera importante, vai aceitar essa minha característica e vai saber lidar com ela [até porque, garanto não ser a única assim].

Aí vai também uma dica: se eu parar de te cobrar, é porque você não tem mais [tanta] importância.

por Marcéli Paulino

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