Londres, dia 28: o lado bom em aprender a apanhar

Gente, hoje eu me dei conta de que já (ou 'ainda') faltam 2 meses para eu voltar para o Brasil. Podem me julgar, falar que sou louca de estar contando os dias para voltar – mas eu, sinceramente, não ligo. Porque cada um sabe dos seus motivos e pelo que passa, logo, eu sei dos meus.

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[Clique de uma "vitrine" decorativa dentro da Central Saint Martins]

Não posso dizer, no entanto, que não estou aprendendo para cacete aqui. Além do meu inglês que, ainda bem, melhora a cada dia, eu estou aprendendo a "apanhar" sem sentir dor – no sentido figurado, calma. Funciona mais ou menos assim: você vem pra cá (eu, no caso) com uma expectativa. Sempre ouvi falar que ingleses eram os reis das gentilezas e da boa vontade e, bem, isto não se aplica aos professores da Central Saint Martins – ao menos, não a todos.

Até que você tem a experiência de levar a primeira patada. Dói demais, você se magoa, chora, se descabela. Mas passa. Na segunda, você já está um pouco mais esperta e desvia do chute, o que faz com que ele só esbarre de leve no seu ombro. E na terceira, você simplesmente bloqueia o golpe.

Estou metaforizando, mas, o sentido é realmente este para com os sentimentos (aliás, para todos os setores da vida, fica a dica!). Você apanha tão forte logo de cara que caleja. Eu não acho que este seja um aprendizado super saudável, mas não posso negar que é eficaz. Vou explicar por que estou falando isso.

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[Outono tem destas coisas lindas, como esta árvore com folhas avermelhadas perto da faculdade]

Hoje, na aula, aquele professor adorável de FCP, que é nosso tutor da parte de comunicação em moda, resolveu pegar no meu pé. De novo. Algumas colegas de classe disseram que ele deveria ter um "crush" por mim, mas não, levando em conta que sou mulher e ele é nitidamente homossexual. Eu não faço o tipo dele. Enfim, isto não é relevante. Acontece que ele já estava de mau humor (opa, cadê a novidade?) porque a classe não apresentou ideias para uma festa da área de comunicação em moda, que temos que organizar, e ele nos deu uma nova data limite que seria hoje de manhã.

Ele nos obrigou a estar às 9h da manhã (na verdade antes, porque, de acordo com as leis britânicas, às 9h em ponto já seria atraso) na sala de aula para discutir ideias e chegar em um acordo. Ou seja, para estar por volta das 8h30 na faculdade, considerando que o metrô de onde moro até lá demora entre 30 a 40 minutos (já que faço baldeação e, considerando que às vezes o metrô quebra), eu tive que acordar às 6h30. Eu, uma pessoa que abomina acordar cedo com todas as forças, já acordei pilhada porque sabia que ia dar de cara com este ser agradável de manhã cedo em uma segunda-feira.

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[Clique do papel de parede de um dos banheiros da faculdade, que achei fofo]

Tá, eu tô dramatizando um pouco. Mas é mais ou menos por aí. E eis que ele está lá na sala, nos esperando, com toda a simpatia do mundo que lhe cabe, e começa a nos esculhambar pelo atraso na entrega das ideias. Pensa numa pessoa que aparenta sentir prazer em humilhar as pessoas e reduzi-las a merda. É ele. E enquanto ele reclamava, basicamente, que a classe inteira estava com "cara de cu" às 8 horas da manhã, em plena segunda-feira, de repente ele dirigu a "bronca" só para mim. Que honra.

"E você aí, por que parece tão miserável/deprimida?" ele pergunta com toda a grosseria que lhe cabe. Aí eu olho com aquela cara que aparenta dizer: "é comigo?". Aí ele pergunta "qual seu nome?", eu respondo – tenho que falar com sotaque inglês, senão o povo não entende e não é capaz de pronunciar -, e ele repete a pergunta. Aí eu digo que não estou deprimida e ele me pede para dar ideias para a festa. Que ser humano mediante uma pressão psicológica destas iria ter criatividade, naquele momento, para responder algo? Sei lá, eu não tive.

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[look "miserável" do dia com colete Forever 21] – Imagens: Marcéli Paulino.

E é óbvio que ele quis que eu fosse um cadáver naquele momento, para me dessecar, quando eu disse que não tinha ideias. Na verdade, tínnhamos uma ideia coletiva, que foi o que eu respondi – mas ele queria uma ideia MINHA. Que amor. Final da história: ele disse que eu nunca serei uma boa profissional se não tiver mais iniciativa e minha própria perspectiva.

Se eu estivesse sentimentalmente vulnerável como antes, isto com certeza seria o golpe fatal, de misericórdia, para acabar com minha autoestima. Mas, sabe do que mais? Não. Ao invés de lamentar e deixar que isto me coloque para baixo, eu vou mostrar para ele que ele está errado. Aliás, ele já está errado antes mesmo de fazer esta declaração, uma vez que eu sou uma boa profissional, do contrário, não chegaria aonde cheguei com meu blog, até hoje. Claro, ainda falta muito… mas eu devo reconhecer que já caminhei bastante. E ele não me conhece para fazer este tipo de declaração tosca. Ele é tosco. Enfim.

E é por isso, queridos, que eu digo a vocês que existe um lado bom em "apanhar". Eu posso estar contando os dias para voltar para casa, mas, enquanto eu estiver aqui, eu vou aprender a desviar destes golpes como ninguém. Prometo para vocês.

Um beijo e que a semana continue mais leve, né!? Por favor! Será que é pedir muito?

Marcéli Paulino.

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