Londres, dia 74: por que Kurt Cobain foi o tema escolhido para meu trabalho final

É, tá acabando. Domingo que, normalmente, para mim é um dia morto o qual passo dormindo, foi super intenso hoje, porque me dediquei a finalizar – ou tentar, ao menos – meus trabalhos finais. A última semana do meu curso vai ser a mais insana destes três meses, tenho certeza. Não vai ser fácil e estou com medo. Mas, estou preparada para enfrentá-lo.

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Mas hoje eu não vou falar tanto de mim, aliás, até vou, mas também vou falar de Kurt Cobain. Eu disse que iria explicar por quê ele foi meu escolhido para o trabalho final, então, cá estou.

Antes de mais nada, meu trabalho final consiste em montar uma revista. Vou explicar por cima, só para vocês não boiarem no tema: como o curso é Jornalismo de Moda, cada aluno teve que escolher uma pessoa da área de moda ou de música e fazer uma relação entre esta pessoa escolhida com a moda nos anos em que ela ficou famosa. Ou seja: temos que fazer um panomara da carreira do nosso ídolo, no caso, dando referências relacionadas à sua influência na moda da época.

Eu, que já estava meio de saco cheio de estudar sobre estilistas – porque eu só fiz isso o trimestre todo, praticamente -, resolvi escolher alguém do ramo da música, ramo que adoro também e que considero essencial para a moda. Tenho vários ídolos musicais, mas queria um que fosse, ao mesmo tempo polêmico, encantador e que me obrigasse a ir fundo para desvendar coisas sobre ele, para quebrar estereótipos. Eis Kurt Cobain.

Eu confesso que, logo quando ouvi falar em Kurt Cobain, lá pela minha adolescência, eu tinha um baita preconceito em relação a ele. Para mim, era mais um rock star drogadão, cabeça ôca que resolveu dar um tiro em si mesmo. A péssima mania que nós temos de julgar as pessoas superficialmente, sem saber, de fato, o que as levou a fazerem algumas coisas.
Com o passar dos anos e com o crescimento do meu interesse pelo gênero musical – rock, punk rock e afins -, eu fui gostando de ouvir Nirvana e passei a questionar as lestras das músicas. Por que eram tão revoltadas e, às vezes, depressivas? E por que será que eu me identificava com elas?

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A resposta veio com este trabalho, que me fez pesquisar muuuito sobre a vida do cantor, tanto no ramo pessoal, quanto no profissional. Cobain nada mais era que um adolescente revoltado com a separação dos pais, com sentimentos de rejeição e frustração tão intensos que ele não sabia como lidar. Eu já passei por isso e aposto que muita gente que está lendo também. 

Para agravar seus traumas perante o acontecimento na família, Kurt sofreu bullying na escola, por muitos anos, por ser "magrelo" e por não gostar de esportes. Ao invés de participar do time esportivo da classe, do qual os "machões" participavam, ele preferia ter aulas de arte e música e era zombado pelos colegas, chamado de "fracote" e "marica". Cada pessoa reage de um jeito para tentar superar suas frustrações: a forma como ele reagiu foi refletindo nos outros o que faziam com ele – se tornando um "buller", zombando dos outros, e usando as drogas como válvula de escape. Começou a beber e a fumar maconha e, depois, passou para drogas mais pesadas até chegar à heroína.

Assim como eu fazia, muita gente olha torto para a memória de Kurt pelo fato dele ter sido um viciado e deixam de lado toda a parte boa da pessoa que ele era. Relatos de vários documentários e reportagens expressam nitidamente o quanto ele era uma pessoa extremamente carinhosa, amorosa e que necessitava de atenção e de amor também. Sem contar que suas visões políticas eram extremamente evoluídas para a época, onde o machismo ainda reinava quase que absoluto. Ele repudiava qualquer tipo de discriminação, inclusive, contra mulheres.

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Imagens: reprodução.

Fora isso, compôr músicas com tanta paixão e sentimento é para poucos – e, como ele, poucos hoje em dia ainda o fazem. Ele era intenso e genuíno em cada palavra de suas cifras – e, também, em cada palavra que escrevia em seu diário. Eu diria que, infelizmente, ele não teve forças para combater o fantasma da insegurança que o assombrava – porque, acima de tudo, ele não gostava de ser famoso. Ele detestava dar entrevistas e se sentia extremamente desconfortável e invadido com o abuso da imprensa em cima de sua vida pessoal, que já era suficientemente conturbada.

Quem somos eu e você, afinal, para julgar a vida que ele teve e a reação às adversidades que lhe aconteceram? Será que faríamos melhor em seu lugar? O fato é que, embora eu não concorde com todas as atitudes que ele teve ao longo de seus 27 anos, sua memória é sim louvável e ele tem minha profunda admiração – assim como a de muitos por aí, eu creio. Eu me tornei uma fã através desse trabalho e, estudar detalhadamente as fases da vida dele, me fez sentir que nenhum de nós é invencível. Somos extremamente frágeis, assim como nossas vidas.

Kurt Cobain foi admirável e, ainda assim, longe de ser perfeito, muito longe. E quem de nós está perto de sê-lo?

por Marcéli Paulino

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