Para que o machismo acabe, as próprias mulheres precisam mudar de atitude

Confesso que evito abordar assuntos demasiadamente polêmicos, como de gêneros, porque dá muita dor de cabeça. Mas a gente vê tanta injustiça em relação ao gênero feminino que, simplesmente, chega uma hora que não dá. E eu, apesar de, às vezes, precisar me manter neutra – porque o jornalismo, mesmo de moda, é uma profissão que exige isso em alguns momentos -, faço questão de me posicionar em relação a este assunto: o papel da mulher na sociedade.

Sabe por que eu acho que o machismo ainda tem espaço na sociedade e, às vezes, ainda se mostra forte? Em parte, por nossa própria culpa – nós, mulheres. Claro que não posso deixar de destacar nosso mérito ao longo da evolução humana no que diz respeito a tirar o ranço patriarcal que ainda se fez presente algumas gerações atrás. Mas, se você parar pra pensar, quantas mulheres submissas você conhece hoje? Quantas delas fazem questão de ser independentes de verdade? Essa atitude, direta ou indiretamente, influencia e muito na maneira da sociedade enxergar as coisas.

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E quando digo "independência", me refiro a todas as formas em que ela pode atuar: não apenas no ramo profissional, mas no pessoal e no social. No profissional, em primeiro lugar, não podemos dizer que é tudo 100%. Querendo ou não, ainda existem empregos que diferenciam o salário de acordo com o gênero. Sim, é um absurdo que isto ainda aconteça em pleno século XXI, mas acontece. Quer um exemplo de outro absurdo que ainda acontece nos dias de hoje? Preconceito com mulheres separadas/divorciadas. Sim, existe.

Eu mesma já presenciei várias situações em que mulheres supostamente bem-casadas excluíam a mulher separada de seu meio social, por considerar que ela não estava mais apta a frequenta-lo. O que será que fazem as pessoas pensarem, em seus minúsculos cérebros, que uma mulher divorciada é, consequentemente, uma ameaça? O mesmo para as solteiras: conheço meninas que namoram que não gostam de andar com amigas solteiras porque têm medo que seus namorados pensem mal sobre elas. Aí eu penso: luta contra a homofobia? É maravilhoso, claro, e seria mais ainda se a nossa sociedade, que ainda guarda conceitos primatas, já tivesse, ao menos, se libertado do preconceito racial e de gêneros, que são ainda mais antigos do que o de orientação sexual. Como vamos dar o passo número 3, se nem o de número 1 demos? Entendem o que eu quero dizer??

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Outra situação ridícula que presenciei em plenas redes sociais, foram algumas reações masculinas mediante aquela história de Desafio sem Make. Não vou aqui explanar o que achei dessa manifestação isoladamente, porque, apesar de achar a ideia inicial boa, tenho lá minhas ressalvas quanto a isso na prática. O assunto principal aqui é a atitude de seres do sexo masculino, que teceram comentários do tipo "parem de postar essas fotos sem maquiagem, o Dia das Bruxas é só em outubro".

Para quem levou como uma inocente brincadeira e acha que estou sendo rabugenta, eu digo: chamar o coleguinha de "macaco" dentro da sala de aula também seria apenas uma brincadeira, mas, é por essas e outras atitudes que o preconceito vai ganhando um tamanho muito maior, sem as pessoas perceberem. Quando foi que ficou estabelecido que, para uma mulher estar bonita, ela precisa estar maquiada? A sociedade, que ainda conserva a mentalidade arcaica, não percebe que tecendo (e curtindo) comentários como esses está contribuindo indiretamente para que essa ideia errada e supérfula se propague. Pelo amor de Deus, vamos aprender a admirar o que é natural. É claro que uma maquiagem bem feita é admirável e tem hora e lugar, mas não é uma obrigação. E todas nós merecemos ganhar admiração sem maquiagem, por que não?

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Outra coisa que é corriqueira e ridícula de se ver e de se ouvir: mulher usando saia curta é tida como vulgar e fácil. E homem que tira a camisa na balada ou que usa a calça mostrando metade da nádega, é o que? Pare para pensar e se imagine visualizando estes dois casos que acabei de citar: qual deles chamaria mais a sua atenção e faria você condenar, no ato? Tenho certeza de que a maioria iria condenar a mulher com roupa curta.

O que quero dizer é que, roupas inapropriadas, comportamentos inapropriados ou palavreados inapropriados devem ser condenáveis para OS DOIS LADOS. Mulher caindo de bêbada é feio? Homem caindo de bêbado também. O caso da atriz Viviane Araújo, por exemplo, que até já foi negado, mas ninguém sabe qual é a real: adivinha quem ficou com fama de piranha e safada? Ela, claro, por supostamente ter feito sexo na rua. E o cara? Foi um mero coadjuvante na "condenação popular" da atriz, sendo que a atitude também foi dele e não só dela. Ele também teve participação. É triste constatar que, infelizmente, ainda é raro falarem do homem em tons críticos em situações como essa. E não me venha dizer que a atriz "chamou mais atenção porque é famosa", porque é pura hipocrisia. O machismo está inconscientemente impregnado na mente das pessoas, sejam homens ou mulheres.

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Imagens: reprodução.


Meu conselho para as mulheres é: não se deixem submeter, nem na mínima circunstância. Não deixe que a "falácia do mundo justo" te convença que você sempre está mais errada ou que deve ceder mais. Se policie; pode ser difícil, mas aos poucos, abrindo os olhos, você vai perceber o quanto era influenciada e o quanto está evoluindo nesta forma de pensar (digo por experiência própria). Nós não devemos nos curvar a nada, nem a ninguém, além de nossas próprias vontades, nem deixar de ser ou de fazer algo que gostamos por causa de opiniões alheias – principalmente as machistas. Ter princípios é diferente de se deixar manipular sem motivo ou ter suas vontades anuladas. Ninguém nasceu para ser dominado.

Por mais que queiramos acreditar que não, eles sempre vão tentar arrumar um jeito de ficar no comando, seja em qual aspecto for. Não aceite brincadeiras, não aceite ordens disfarçadas de sugestões, não aceite críticas manipuladoras (quem convive com homens sabe do que estou falando). E, quando digo não aceitar, não significa se rebelar e agir de forma grosseira: simplesmente diga, da maneira mais doce e educada que você puder, um "não, obrigada, farei do meu jeito". Seja uma mulher, com todas as características, boas e ruins, que o gênero implica, e tenha orgulho disso, esteja você sozinha ou acompanhada. Este, eu acredito, é o primeiro passo.

por Marcéli Paulino

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